sexta-feira, 9 de março de 2012

COMEÇARAM AS LEITURAS DE MESA

  

Ler o espetáculo é, no sentido metafórico – como bem afirma Patrice Pavis – decifrar e interpretar os diferentes sistemas cênicos (dentre os quais o texto dramático) que se oferecem à percepção do espetáculo. A crítica emprega hoje a expressão “ler o teatro” no sentido de uma busca de todas as unidades possíveis do texto e das imagens cênicas com a finalidade de “determinar os modos de leitura que permitem não só esclarecer uma prática textual muito particular, como mostrar, se possível, os vínculos que unem esta prática textual a uma outra prática, que é a da representação.”
Os sistemas cênicos (ou sistema significante) agrupa um conjunto de signos pertencentes a um mesmo material (iluminação, gestualidade, cenografia etc.) e que forma um sistema semiológico de oposições, redundâncias, complementaridades etc. Ela abarca ao mesmo tempo a organização interna de um dos sistemas e as relações dos sistemas entre si. Ela convida a imaginar o espetáculo como um objeto atravessado por vetorizações em todos os sentidos.
Entretanto, “ler um texto dramático não é simplesmente seguir ao pé da letra um texto como se leria um poema, um romance ou um artigo de jornal, a saber, ficcionalizar ou criar um universo ficcional (ou um mundo possível)”, alerta Patrice Pavis. E ele continua: A leitura do texto dramático pressupõe todo um trabalho imaginário de situação dos enunciadores. Que personagens? Em que tempo e lugar? Em que tom? Todas elas perguntas indispensáveis à compreensão do discurso das personagens. Ademais, é inevitável acompanhar esta leitura de uma análise dramatúrgica, que esclareça a construção dramática, a apresentação da fábula, a emergência e a resolução dos conflitos.”
Este trabalho nós realizamos nesta semana, com a leitura inicial do espetáculo “Capitães do Morro”. Primeiro, uma leitura de reconhecimento; depois, uma leitura atenta; por fim, uma leitura interpretativa. É a partir desta última que a gente começa a penetrar no universo da personagem. Esta leitura, vista de forma horizontal, é feita dentro da perspectiva de uma espacialização desses elementos dinâmicos do drama, da colocação em relevo do esquema diretor da ação.  A gente se coloca no interior da ficção; seguimos o rastro da ação e da fábula, observa os encadeamentos dos episódios e se preocupa com a lógica narrativa e com o resultado final para o qual a fábula tende. “Ela só usa, nos materiais cênicos, aquilo que se integra ao esquema narrativo e mantém o espetáculo na ilusão de uma progressão irressistível.”
Finalmente, quando todo este processo é compreendido, partimos para a leitura verticalizada (ou paradigmática) que “favorece as rupturas do fluxo dos acontecimentos para ligar-se aos signos cênicos e aos equivalentes paradigmáticos dos temas que eles evocam por associação”, assinala Patrice. É hora de analisar como a cenografia, a iluminação, a maquiagem, o figurino, o som, a gesticulação, a marcação irão influenciar no discurso cênico.
Bom seria que a leitura tivesse o conceito de texto dramático. Pois “se lê o teatro mui diferentemente de um texto lingüístico: expondo-se a todas as linguagens não-verbais (gestual, música, cenografia, rítmica) que, precisamente, escapam à linguagem e confrontam o espectador com um evento cênico, não com um texto constituído de signos lingüísticos.”

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