quinta-feira, 26 de abril de 2012

“Aprendam a amar seu papel em vocês. Vocês têm a capacidade criadora necessária para construí-lo.”


Rafael Kau, no ensaio
Conseguimos chegar à décima cena do espetáculo “Capitães do Morro.” Se, levarmos em conta que estamos apenas no meio do caminho, ainda falta muito chão até o “grand finale.” Aproveitei para tecer alguns comentários que considero extremamente úteis para a construção da personagem.
Primeiro, a palavra de ordem é Organicidade, ou seja, todos precisam ser mais orgânicos. Ser orgânico, no sentido literal da palavra, é caráter de um desenvolvimento natural, inato, em oposição ao que é ideado, calculado.
Em segundo lugar, os sentidos devem estar aguçados, como o rato, o bastão e a batida do bastão – exercício realizado esta semana em um dos ensaios. E, falar em aguçar sentido, é o mesmo que dizer que o Reflexo é também indispensável.
Num terceiro momento, devemos estar concentrados “todo o tempo, o tempo todo.” O ator não pára. E, se para nossos olhos, ele está parado, seu corpo está em movimento. Daí, o ponto quatro destas considerações, estar em Ação Total – interior e exterior. É ter um comportamento, atitude, exercício de força, do poder de fazer algo, influenciar. Estar em Ação Total é saber usar as ações físicas, pois “a emoção é independente da vontade.”
Vejamos: limpar o chão, lavar os pratos, comer, não são ações físicas, são apenas atividades. Ela se caracteriza como uma ação física quando você tem um por quê. Não é somente o gesto que determina a ação física. É o por quê!
Por fim, para que haja Organicidade, Reflexo, Concentração e Ação Total é necessário a Entrega. Portanto, se não há Entrega, não há nada disso.
Stanislavski em “A Construção da Personagem”, ao falar sobre personagens e tipos, no capítulo III do seu livro, ele nos diz:
“Há atores e principalmente atrizes que não sentem necessidade de preparar caracterizações ou de se transformarem noutros personagens, porque adptam todos os papéis a seu encanto pessoal. Edificam o seu êxito exclusivamente sobre essa qualidade. Sem ela ficam mais desamparados do que Sansão depois que lhe tosquiaram as madeixas...” E, mais adiante, ele alerta para o fato de, muitas vezes, gostarmos mais de nós no papel que estamos interpretando do que o papel em nós.
“Aprendam a amar seu papel em vocês. Vocês têm a capacidade criadora necessária para construí-lo.”

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