Rafael Kau, no ensaio
Conseguimos
chegar à décima cena do espetáculo “Capitães do Morro.” Se, levarmos em conta
que estamos apenas no meio do caminho, ainda falta muito chão até o “grand
finale.” Aproveitei para tecer alguns comentários que considero extremamente
úteis para a construção da personagem.
Primeiro,
a palavra de ordem é Organicidade, ou seja, todos precisam ser mais orgânicos.
Ser orgânico, no sentido literal da palavra, é caráter de um desenvolvimento
natural, inato, em oposição ao que é ideado, calculado.
Em
segundo lugar, os sentidos devem estar aguçados, como o rato, o bastão e a
batida do bastão – exercício realizado esta semana em um dos ensaios. E, falar
em aguçar sentido, é o mesmo que dizer que o Reflexo é também indispensável.
Num
terceiro momento, devemos estar concentrados “todo o tempo, o tempo todo.” O
ator não pára. E, se para nossos olhos, ele está parado, seu corpo está em
movimento. Daí, o ponto quatro destas considerações, estar em Ação Total –
interior e exterior. É ter um comportamento, atitude, exercício de força, do poder
de fazer algo, influenciar. Estar em Ação Total é saber usar as ações físicas,
pois “a emoção é independente da vontade.”
Vejamos:
limpar o chão, lavar os pratos, comer, não são ações físicas, são apenas
atividades. Ela se caracteriza como uma ação física quando você tem um por quê.
Não é somente o gesto que determina a ação física. É o por quê!
Por
fim, para que haja Organicidade, Reflexo, Concentração e Ação Total é
necessário a Entrega. Portanto, se não há Entrega, não há nada disso.
Stanislavski
em “A Construção da Personagem”, ao falar sobre personagens e tipos, no
capítulo III do seu livro, ele nos diz:
“Há
atores e principalmente atrizes que não sentem necessidade de preparar
caracterizações ou de se transformarem noutros personagens, porque adptam todos
os papéis a seu encanto pessoal. Edificam o seu êxito exclusivamente sobre essa
qualidade. Sem ela ficam mais desamparados do que Sansão depois que lhe
tosquiaram as madeixas...” E, mais adiante, ele alerta para o fato de, muitas
vezes, gostarmos mais de nós no papel que estamos interpretando do que o papel
em nós.
“Aprendam
a amar seu papel em vocês. Vocês têm a capacidade criadora necessária para
construí-lo.”
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