O cotidiano do
alto permeia o espetáculo Capitães do Morro, narrado pelas memórias de Pedro
Bala, ex-membro da pique-facção, obrigado a seguir o caminho do tráfico,
abandonar a escola e renegar sua fé. Uma história comum, com bandidos comuns,
situações comuns.
O espetáculo é
retrato – e ao mesmo tempo – alerta, porque trata da disseminação da droga e
traz à tona um debate sobre as escolhas que batem diariamente à nossa porta.
Não é, nem de longe, uma apologia ao crime. Pelo contrário, relata, através da
arte, como a vida nos parece injusta e o destino selado, ao tratar de vidas
abandonadas à própria sorte. A frase: “Toda escolha tem seu preço. Todo fim tem
um novo começo” - remete justamente a essa pluralidade de vivências que nosso
livre-arbítrio nos permite. A plateia será fatalmente condicionada à reflexão
de como as escolhas influenciam em nossa vida.
Montar
Capitães do Morro é o ponto de partida do Teatro como veículo fomentador do
debate, conduzindo a plateia a um desfecho inesperado e a viva esperança de que
ainda exista indignação, solidariedade e compaixão. O espetáculo recorre a
padrões clássicos de narrativa, nos quais há o envolvimento característico e
intenso da plateia com a trama como a fragmentação temporal e a montagem
criativa. O final é decidido antes de cada apresentação. Ele sempre aponta para
dois caminhos que é escolhido involuntariamente pelo público.
A abordagem do
universo de “Pedro Bala”, sem concessão ou sentimento compassivo, revela como
são e vivem, os Capitães do Morro, meninos do tráfico, guiados por uma estreita
racionalidade e altas doses de arbítrio e firmeza, virtudes não restringidas
pelo contexto adverso em que vivem. O Morro é a escola, o mestre da vida; o
tráfico é a disciplina. E assim vão crescer (ou não!) e se tornar
“sujeitos-homens”, na prática de atividades ilegais e no afastamento afetivo.
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