sábado, 28 de abril de 2012

É BINHO, É PEDRO... É GERMANO LOPES


"Iniciei a minha “carreira artística’’, assim digamos, bem cedo, pois já demonstrava habilidade em áreas como desenho e pintura”. Havia notado também que gostava de escrever e por consequência também adquiri o hábito da leitura, isso por volta dos meus oito anos de idade. Passei então a me descobrir no mundo das artes... Hoje sei que todo conhecimento e experiências  desta fase foram acumulados".

Estas palavras são de Germano Lopes, o "Binho" e depois "Pedro Bala", em Capitães do Morro. Germano esteve nos espetáculos "Sonho de uma noite de verão", "Aurora da minha vida", "Adão e Eva - qual o paraíso?", "A Via Sacra em Versos", "Arrocha Brasil", "Cotidianus", "Pura Comédia", "A Vida de Galileu". Este último do Teatro Popular de Ilhéus. Pela Cia Casa Aberta de Teatro também fez "Show de Humor" e "Riso de Quatro". Versátil e assaz disciplinado, ele enfrenta um papel que irá exigir mais de suas habilidades.


"Comecei no Teatro, graças ao convite da professora e atriz Valdiná Guerra. Lembro-me com clareza o quanto havia ficado maravilhado com tudo que vi. Tudo lindo e mágico. . . Era a sensação de estar ali, naquele lugar sagrado onde “tudo é possível”, que decidi nunca mais me afastar". 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

“Aprendam a amar seu papel em vocês. Vocês têm a capacidade criadora necessária para construí-lo.”


Rafael Kau, no ensaio
Conseguimos chegar à décima cena do espetáculo “Capitães do Morro.” Se, levarmos em conta que estamos apenas no meio do caminho, ainda falta muito chão até o “grand finale.” Aproveitei para tecer alguns comentários que considero extremamente úteis para a construção da personagem.
Primeiro, a palavra de ordem é Organicidade, ou seja, todos precisam ser mais orgânicos. Ser orgânico, no sentido literal da palavra, é caráter de um desenvolvimento natural, inato, em oposição ao que é ideado, calculado.
Em segundo lugar, os sentidos devem estar aguçados, como o rato, o bastão e a batida do bastão – exercício realizado esta semana em um dos ensaios. E, falar em aguçar sentido, é o mesmo que dizer que o Reflexo é também indispensável.
Num terceiro momento, devemos estar concentrados “todo o tempo, o tempo todo.” O ator não pára. E, se para nossos olhos, ele está parado, seu corpo está em movimento. Daí, o ponto quatro destas considerações, estar em Ação Total – interior e exterior. É ter um comportamento, atitude, exercício de força, do poder de fazer algo, influenciar. Estar em Ação Total é saber usar as ações físicas, pois “a emoção é independente da vontade.”
Vejamos: limpar o chão, lavar os pratos, comer, não são ações físicas, são apenas atividades. Ela se caracteriza como uma ação física quando você tem um por quê. Não é somente o gesto que determina a ação física. É o por quê!
Por fim, para que haja Organicidade, Reflexo, Concentração e Ação Total é necessário a Entrega. Portanto, se não há Entrega, não há nada disso.
Stanislavski em “A Construção da Personagem”, ao falar sobre personagens e tipos, no capítulo III do seu livro, ele nos diz:
“Há atores e principalmente atrizes que não sentem necessidade de preparar caracterizações ou de se transformarem noutros personagens, porque adptam todos os papéis a seu encanto pessoal. Edificam o seu êxito exclusivamente sobre essa qualidade. Sem ela ficam mais desamparados do que Sansão depois que lhe tosquiaram as madeixas...” E, mais adiante, ele alerta para o fato de, muitas vezes, gostarmos mais de nós no papel que estamos interpretando do que o papel em nós.
“Aprendam a amar seu papel em vocês. Vocês têm a capacidade criadora necessária para construí-lo.”

domingo, 22 de abril de 2012

ANDRÉA BANDEIRA JÁ FOI CANGACEIRA, BRUXA E AGORA PREPARA-SE PARA SER UMA PROFESSORA NADA CONVENCIONAL


Dona Marita trabalha como diarista em casa de gente rica. Aos domingos, pega latinhas de refrigerantes vazias, para fazer um dinheirinho extra e assim aumentar a renda familiar; já a Professora é uma profissional que não deu muita sorte no amor, por isso quer se vingar dos seus alunos. Andréa Bandeira (CANGAÇO e AS AVENTURAS DE JOÃO E MARIA).


Foi construindo este subtexto que Andréa Bandeira definiu as personagens que interpretará em "Capitães do Morro". A primeira é Dona Marita, mãe de Binho, protagonista da trama que é mortalmente ferida na fase inicial; a segunda é a Professora, nada convencional, extremamente severa, que ama poesia, sobretudo a do baiano Sosígenes Costa, e se diz superada por ter sido abandonada pelo pai aos três anos de idade. 

Andréa Bandeira tem uma longa experiência como atriz, começou cedo e já fez diversos personagens sob a direção de Pawlo Cidade. Mas, considera-se uma aprendiz. Cada trabalho, cada criação, prima pelos detalhes e pelas anotações. Sempre é surpreendida, ao final de cada dia, registrando as indicações, as falhas, o desenho que foi criado.


LAIANE VITÓRIA É ISABEL


Laiane Vitória (18) vai fazer Isabel, uma menina-mulher que se vê envolvida com a turma do tráfico. Começando fazendo teatro na Oficina de Iniciação Teatral, promovida pela Fundação Cultural e Secretaria Municipal de Educação de Ilhéus. Já fez diversos cursos no Rio de Janeiro e também em Ilhéus.

"A primeira visão de Isabel é que ela é uma menina-mulher - diz a atriz que já interpretou "Maria", em 2010, na peça "As Aventuras de João e Maria" - que gosta de brincar de ser mãe, mas tem medo de engravidar." A personagem é uma vítima da violência doméstica, fica dividida entre escolher a mãe ou o pai, após a separação. Quando cresce, é a fofoqueira da Comunidade, a primeira a ver o tiro que muda toda a trama.



FERIADÃO COM MUITOS ENSAIOS

Aproveitamos o feriadão  para acelerar a montagem. No sábado, dia 21/04, pela manhã, Bianca Lavigne pegou leve com a turma em suas aulas de Expressão Corporal. Depois, almoçamos no Malhado e descemos para ensaiar no Municipal - palco de nossa estreia dia 15 de junho. É isso, 15 de junho! Vai cair num sábado.

Pausa para o lanche porque ninguém é de ferro

Amanhã, dia 23 (também feriado, só que municipal), iremos ensaiar à todo vapor. Já conseguimos fazer um plano de estudo de sete cenas. Esperamos cumprir a primeira fase do espetáculo até o final de abril.

Pawlo explica sobre a fisicalização do pé

A primeira fase do espetáculo conta a história dos personagens ainda jovens. Binho ainda é Fábio Augusto e apenas comanda o grupo de amigos formado por Sapecado, Galido e Oreia; Clara (interpretada por Léia Raquel), Cristina (Paula) e Isabel (Laiane Vitória) são apenas meninas. Quem comanda a "Comunidade do Morro" é o traficante Cabeção, na pele do ator Ruy Penalva.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"BRINCAR É BRINCAR. SE METER... É SE METER!"

Com a filosofia "marginal", improvisada hoje nos ensaios, pelo ator Rafael Kau (antes era Silva!), ele passa a sentenciar Oreia - o X9 da trama - a se enquadrar passo a passo no processo de criação.

Momento do "sabão", da bronca

É fato, que hoje, foi preciso passar o SABÃO. Afinal, "ficar sujo" o tempo todo não faz bem a ninguém. Teve quem preferiu "comer calado" e ouvir a "sujesta." Uma coisa é certa: compromisso é compromisso. Farinha pouca, meu pirão não é o primeiro. É o último! No palco ou no proscênio, a palavra de ordem é "coletividade", é presença. Mais do que isso: "A palavra SURPRESA não deve conduzir a nenhum engano. Não se está falando de um nível de organização que observa os aspectos macroscópicos e mais evidentes da ação cênica. Resumindo, não se está falando de um ator que tentar provocar estupefação." Foi o que disse Eugênio Barba, e faço delas, as minhas palavras.

Esquema de marcação. Desenho do diretor para o início da Cena 6
com Léia Raquel, Paula Cristina, Laiane Vitória, Rafael Kau e Ricardo Rodrigues

Parafraseando o mestre Meyerhold, quando eu disser: "VÁ ATÉ O CENTRO", MAS NÃO O FAÇA DE MANEIRA TÃO EVIDENTE. Se você fizer assim, você revela à plateia o meu desenho, a minha marcação. Primeiro "caminhe rapidamente e depois pare totalmente. Dissemule os traços do meu planejamento de direção!"

domingo, 15 de abril de 2012

TEASER 1 - CAPITÃES DO MORRO

O TREINAMENTO CONTINUA INTENSO

Pizute ensinando um golpe 

Encontrar a trajetória para a composição do personagem, para aqueles que realmente buscam o processo de criação, não é um caminho fácil. Por isso mesmo, os atores de Capitães do Morro treinam diariamente com o Contra-Mestre Pizute noções de capoeira e luta livre e com a Coreógrafa Bianca Lavigne expressão corporal e PRESENÇA de palco.

"Ter presença", é, no jargão teatral, saber cativar a atenção do público e impor-se; é, também, ser dotado de um "quê" que provoca imediatamente a identificação do espectador, dando-lhe a impressão de viver em outro lugar, num eterno presente.


Expressão corporal com Bianca

Segundo Patrice Pavis, e de acordo com a opinião corrente entre a gente de teatro, a presença seria o bem supremo a ser possuído pelo ator e sentido pelo espectador. A presença estaria ligada a uma comunicação corporal "direta" com o ator que está sendo objeto de percepção.

A presença também é pertubadora. Eugênio Barba e Moriaki Watanabe fazem dela a contradição e o oxímoro (clique e saiba o que significa) do ator: "Ser marcadamente presente e, no entanto, nada apresentar, é, para um ator, um oxímoro, uma verdadeira contradição, [...] o ator de pura presença [é um] ator representando sua própria ausência."


O que encontramos no corpo do ator presente nada mais é que nosso próprio corpo: daí nossa perturbação e nosso fascínio diante dessa presença ao mesmo tempo estranha e familiar.


quarta-feira, 4 de abril de 2012

JÁ COMEÇAMOS A MONTAR A SEGUNDA CENA

Parte do elenco. Da Esquerda para direita: Val, Romário, Andréa,
Laiane, Rafael, Ruy, Hilton, Ricardo, Maurício, Paula, Léia e Jorge

Toninho em mais uma preparação vocal

O diretor explicando a Maurício como dar o primeiro passo

O DIRETOR VER AQUELE "ALGO" INDEFINÍVEL QUE É APENAS SENTIDO

"Formar o elenco exige um insight infinito por parte do diretor", afirma Viola Spolin. E é verdade. O diretor consegue ver além do que estamos costumados a ver. É possível tirar leite de pedra? É possível acabar com os vícios? Como acabar com o improviso se a vida inteira você conviveu com ele? Quando o improviso é um perigo? O diretor precisa sacar isso. Ele não pode ver uma obra acabada, ele procura "o tom de voz, aquela presença, aquela qualidade corporal - aquele "algo" indefinível que inicialmente é apenas sentido."

E, meus amigos, não dá para descrever isso. A gente, simplesmente, sabe. Na concepção de "Capitães do Morro", recorro mais uma vez à Viola Spolin quando ela sentencia que: "Um ator pode ter as qualidades do personagem que se deseja, mas tem tão pouca formação ou tantos vícios e maneirismos que será impossível conseguir o necessário num período de ensaio limitado."


Entretanto, a escolha é minha. É uma responsabilidade tensa. Você deve ter a certeza que a semente do personagem está dentro de cada ator selecionado para montar a peça. Todas as minhas energias estão focadas na descoberta, no desvelamento, na criação, no movimento e na precisão do texto. Eu foco, eles focam. Tenho plena convicção que o elenco selecionado: Jorge, Ruy, Germano, Paula, Laiane, Andréa, Val, Ricardo, Léia, Maurício, Rafael, Hilton, Beto e Romário é fruto de minha sensibilidade, consciência e bom gosto. Serei o "agente catalisador, que procura canalizar as energias de pessoas diferentes para uma ação unificadora."

Pawlo Cidade
Diretor